Land Stewardship
'Land Stweardship' ou 'Guardiões da terra' como faço a tradução. Por 'guardião' entendo um participante consciente na Vida na Terra, que sabe que é parte integrante da Vida, que vive em respeito com os ciclos naturais e da vida, que sabe que não é possível ser dono da Vida, da Terra, do Universo.
Numa tradição livre o website https://archiarchy.mystrikingly.com/ da prática de Possibility Management, consultado em Agosto de 2024, podemos ler:
"É ao contrário pensar que podes possuir uma terra. A terra é um ser vivo. Pensar que podes possuir uma terra não é diferente de pensar que podes possuir um escravo.
A forma como é entendido na Arquiarquia [próxima cultura] é que a terra é dona de ti. Apanhas-te a cuidar da terra que te possui.
A tua principal questão ao ser responsável pela terra, ou por qualquer coisa que te possua, é: "Como posso tornar a terra melhor nos seus próprios termos? A minha função é ajudar a terra a fazer o que a terra quer fazer, da forma como o a terra quer fazer, só que melhor."
Está é a natureza do mapa de 'land stweardship' / 'guardiões da terra'. Distingue-se dos mapas usados na cultura moderna em duas componentes:
Componente da Propriedade
Componente da governação
Na componente de propriedade, nas sociedades de mercado, temos o constructo da 'propriedade' e quem é 'propriétário' pode fazer o que entender na sua propriedade. Pode cortar árvores, colocar químicos no solo, pode matar (e.g. caça), pode instalar centrais nucleares (Espanha instalou a central nuclear porque é a dona daquela terra), inceneradoras, minas, industrias poluentes, contaminar os lençois friáticos, destruir o solo, e por ai fora.
O 'dono', o 'proprietário', pode ser público, privado ou da comunidade (e.g. baldios). Pode vender ou comprar. Embora a regulamentação tenha vindo a ser mais restritiva, no geral segue-se o princípio que o 'dono faz o que entender nas suas terras'. De facto a ideia, o constructo 'propriedade' 'e o início da sociedade patriarcal.
No mapa dos 'guardiões da terra' não é possível um ser humano ser dono da terra. Neste modelo a terra não tem 'dono'. Os seres humanos podem ser guardiões da terra, dos lugares. Deiza de ser possível vender ou comprar a terra.
A República Portuguesa ainda não tem estes conceitos na sua constituição. O que defendo é que a Terra deveria ter dignidade constitucional (direitos da terra, como as pessoas tem os direitos das pessoas e os animais precisam dos direitos dos animais, ou seja estamos a falar dos direitos da Vida) e como tal deixar de ter 'dono'.
O documentário The Rights of Nature: A Global Movement retrata o que se esta a passar no mundo neste contexto.
Na Fundação Terra Agora, usamos uma fundação para modelar este conceito de a terra não ter dono. A Fundação é a figura jurídca mais difiicl de alterar em Portugal e a natureza do seu desenho visa garantir que ninguém pode dizer que é dono daquelas terras - a fundação é a dona e ninguém pode dizer que é o dono da fundação.
Outros projectos como o TDF e o Cyclival Village estão a usar tecnologia digital, neste caso tokens em blockchain para modelar este tipo de relação.
Na componente da governação, os projectos a desenvolver na terra passam a ser o centro. Estes projectos são executas por equipas (mais de 3 pessoas), são projectos de muito muito longo prazo (7 gerações ou mais), sendo mais importante a forma como se faz - desenvolvimento regenerativo / usando pensamento em sistemas vivos - do que o que se faz. Estes colectivos são organizações de comuns (ou organizational stweardships).
Penso que não será possível haver haver 'guardiões da terra' sem 'organizações de comuns', ou seja, que estes dois constructos estão interrelacionados e tornam visível a estrutura memetica do 'constructo de propriedade' (que em tempos também se aplicou ao ser humano' e que hoje se aplica a terra e aos animais).
Gameworlds/ projectos como o TDF e o Cyclival Village estão a caminhar nesta direcção.
Este é o modelo que se pode ver à data (2024) nos estatutos , cartas e código da Fundação Terra Agora. Os próximos anos irão mostrar se a promessa se torna realidade e se este mapa é realizável no contexto cultural presente.
Ver Fundação Terra Agora
O livro 'Uma Breve História da Igualdade' de Thomas Piketty é uma boa introdução ao tema da propriedade, da sua influência na posse de terra e organizações (meios de produção) e qual a influência na 'igualdade' e a co-criação da sociedade de mercado.